segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Crítica da peça “Nove mentiras sobre a verdade”.


A peça “Nove mentiras sobre a verdade”, do Grupo Teatro Líquido, foi apresentada no Espaço Tholl no dia 14 de abril de 2011 tendo início às 20h. Todas as turmas de teatro e dança da UFPel foram liberadas para assistirem ao espetáculo, ou melhor, este foi incluso no calendário acadêmico dos cursos, portanto o público presente eram de  alunos, professores e pessoas ligadas ao teatro.
“Nove mentiras sobre a verdade” é um monólogo no qual a atriz Vanise Carneiro interpreta a personagem Lara, uma mentirosa compulsiva que rouba a identidade de figuras famosas de filmes e acredita que os tenha estrelado. Lara esta em um grupo de apoio a mentirosos compulsivos, quando a peça inicia é a vez dela falar. Portanto o espetáculo inteiro é uma conversa da atriz para com a platéia.
O espetáculo inicia com um ator sentado numa cadeira no palco esperando o público, o ator esta interpretando o diretor da peça. Nessa espera ele olha a todo o momento para o relógio e faz expressões de desconforto, quando ele percebe que o público já está presente ele sai de cena. Em seguida entra a atriz e começa sua “conversa” com a platéia.
A encenação toda está calcada nesse eixo de ator – platéia, mas só que a atriz não da à liberdade de o público responder os seus questionamentos, fica visível que a atriz não está preparada para o “jogo” com a platéia, se esse era o objetivo da atriz ou do diretor, infelizmente não aconteceu.
O espetáculo está centrado no trabalho de ator, mais especificamente no trabalho de atriz, Vanise Carneiro dá um show de interpretação nos fazendo embarcar no seu mundo de mentiras e nos convencendo de seus vários papéis sociais, de atriz, de mãe, de esposa, de filha, por ser um monólogo ela se saiu muito bem, não deixou o espetáculo “cair” em nenhum momento, o texto cheio de nuances e indicações de filmes famosos que no qual ela se apropriou e contava como se fossem recortes de sua vida ajudou-nos a prender a nossa atenção.
A direção de “Nove mentiras sobre a verdade” foi excepcional, tanto no que tange o trabalho de ator como na cenografia, tudo foi muito pensado e todos os elementos de cena foram utilizados, Lara, a personagem interpretada por Vanise, chega num espaço quase vazio, apenas com uma cadeira no centro do palco, com uma mochila do Superman e dentro dessa mochila encontram-se o restante dos elementos cênicos, um lenço, um gravador, fósforos, uma camiseta, que dão o suporte para ela criar novas direções e nos transportar para outras histórias.
O trabalho de som, as projeções e a iluminação desse espetáculo também merecem destaque, tudo muito bem utilizado e que apenas contribuiu de forma positiva para promover significações ou ilustrar as histórias contadas pela atriz.
“Nove mentiras sobre a verdade” traz uma reflexão sobre sermos, muitas vezes, coadjuvantes de nossas próprias vidas, Lara é uma atriz que só faz figurações em filmes, uma metáfora de sua vida, para ela todas as histórias que conta são suas, mas na realidade por não ser protagonista nem de sua própria vida ela cria um roteiro e o segue como se fosse um filme, o filme de sua própria vida real.
Maicon Barbosa

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Renato Russo - Força sempre!

É tão estranho, os bons morrem jovens.


        Foi numa tarde do dia 11 de outubro de 1996 que a voz de um grande poeta e um dos maiores cantores do século, se calou para sempre.
      Renato Manfredini Junior gostava de fantasiar que fazia parte de uma banda de rock imaginária chamada 47th Street Band, na pele do fictício Eric Russel, de quebra quis homenagear o iluminista suíço Jean – Jacques Rousseau, o filósofo inglês Bertrand Russel e o pintor francês Henri Rousseau. Tornou-se Renato Russo. Despontou para o sucesso em Brasília. Foi professor de inglês, criou em 1978 o Aborto Elétrico, grupo influenciado pelo punk rock inglês. Em 1982, saiu do Aborto e montou o Legião Urbana. E não demorou muito para se tornar um mito do rock nacional. Suas letras sempre atuais, falam de coisas que qualquer pessoa gostaria de falar e que ele com a sua coragem e personalidade marcante traduziu nas suas músicas.
      A minha paixão por esse poeta aconteceu após a sua morte, no ano de 1999, estava assistindo um programa da rede globo chamado “Linha direta” na casa da minha avó, esse programa era famoso por mostrar crimes bárbaros que aconteciam e estavam sem serem solucionados ainda. O programa mostrou o brutal assassinato de um jovem que era fã de Renato Russo e foi enterrado ao som da música “Pais e filhos”, um programa belíssimo que fez me emocionar muito. Nasceu então desde esse dia uma paixão inexplicável por esse grandioso poeta.
       As suas músicas sempre acalentaram a minha alma e eu as procuro ouvir nos momentos em que estou precisando de uma palavra amiga.
    A sua coragem e a sua personalidade marcante me inspiram a ser uma pessoa forte, Renato não teve medo de assumir a sua rebeldia, a raiva, a homossexualidade, a depressão, e as drogas, enfrentou a sua doença com maestria e quando viu que não dava mais decidiu ir para um lugar melhor, um lugar que concerteza seria melhor  que esse no qual vivemos.
     "Empunhou apaixonadamente todas as bandeiras da sua geração, mas tremeu na hora de enfrentar a tempestade."


Maicon Barbosa

domingo, 21 de agosto de 2011

Crítica a peça "Larvárias"

"Larvárias" atuação e direção de Daniela Carmona
       A peça “Larvárias”, da CIA DO GIRO, foi apresentada no Espaço Tholl no domingo, dia 22 de maio de 2011, tendo início às 20h.
            “Larvárias” conta com apenas dois atores em cena, Daniela Carmona e Adriano Basegio, que se utilizam de máscaras-larvas de diferentes tamanhos e formas com o objetivo de retratar o cotidiano. De um mundo totalmente branco, em meio ao nada, surgem essas figuras indefinidas, que aparentemente não estão resolvidas em características humanas, mas que também não são animais.
            O espetáculo nos faz embarcar nesse mundo fenomenal que envolve o contato entre essas duas figuras que hora se encontram e se desencontram.
             “Larvárias” é um espetáculo teatral que sai do convencional, não existe texto, apenas um roteiro, o trabalho de atuação dos atores é corporalmente. A peça toda está calcada no trabalho corporal e gestual, pois como eles usam máscaras, a atenção está voltada todo para o corpo. Daniela Carmona e Adriano Basegio não deixam a desejar no que tange a expressão corporal, eles conseguem “falar” apenas com o corpo.
Os recursos utilizados para ambientar a peça, tais como, música, luz, cenário e figurino, foram de extrema importância, pois contribuíram de forma positiva para o desenrolar da ação. Como a peça toda era sem falas, com apenas o trabalho de expressão corporal dos atores, poderia ter ficar muito cansativa, mas não ficou graças a presença cênica marcante dos atores. O público geralmente espera por um espetáculo convencional, como uma historinha com começo, meio e fim, pois “Lárvárias” é completamente diferente, é um projeto de estudo dos atores Daniela Carmona e Adriano Basegio sobre as máscaras, que foi introduzido no universo teatral na década de 60 pelo francês Jacques Lecoq e o qual desenvolveu princípios técnicos para utilização dessas no espaço cênico, o que nos foi apresentado foi um trabalho de pesquisa, uma demonstração técnica e não um espetáculo em si.
A direção e o roteiro de “Larvárias” ficou a cargo da atriz que também atuou na peça, Daniela Carmona, a sua assistente Adriane Mottola, ajudou na finalização do projeto de encenação, que foi excepcional. Um espetáculo de qualidade, com direção e atuação afinadíssimas, uma “injeção” de animo a todos nós estudantes de teatro, que “tentamos” fazer  teatro numa cidade onde este “morreu” e que só se vive de “lendas”. 
Maicon Barbosa

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Divulgação da peça "Trecho Ermo".



DIA : 20/08/2011
LOCAL: TEATRO DO COP ( ALMIRANTE BARROSO, 2540)
HORÁRIO: A PARTIR DAS 14 H

PEÇA TRECHO ERMO DE WILSON SAYÃO

"TRECHO ERMO" É UM ESPETÁCULO QUE TRATA DO CONFLITO ENTRE IRENE E SEUS FILHOS, OS QUAIS NÃO CEDEM AS SUAS SÚPLICAS E CONTINUAM SEUS CAMINHOS ERMOS.

DIREÇÃO: HÉLCIO FERNANDES, JANDIRA BRITO E MAICON BARBOSA

ELENCO: DAVI DOS SANTOS, FRANCINE FURTADO, HÉLCIO FERNANDES, JANDIRA BRITO, JOANDERSON FLORIANO, MAICON BARBOSA E SIRLEI KORCZESKI.

Estudo de caso de Teatro Comunitário - Comunidade de Interesse e por Comunidade

GRUPO METAMORFOSE DA ESCOLA GETÚLIO VARGAS

               O Teatro comunitário e suas implicações educacionais na formação do indivíduo. Começamos traçando o nosso roteiro na cidade de Pelotas, pelo bairro Getúlio Vargas, mais precisamente com o foco na Escola Municipal de Ensino Fundamental do Núcleo Habitacional Getúlio Vargas. Que está localizado no Bairro Getúlio Vargas, na cidade de Pelotas – RS. Bairro que existe aproximadamente a uns vinte e cinco anos. Na busca de instrumentos metodológicos que pudessem guiar nossas pesquisas de Teatro para o desenvolvimento de comunidades, fizemos visitas à Escola, onde entrevistamos o Grupo de Teatro Metamorfose, que já existe desde 2009, sob a direção da professora Mônica Elizabeth Alonso Pereira Valerão que é formada em Artes e História pela Universidade Federal de Pelotas. A possibilidade de se montar um grupo de teatro Escola, partiu do interesse da própria professora, uma vez que a mesma já havia desenvolvido trabalhos artísticos, e foi uma maneira de se trabalhar com os alunos utilizando-se de um método mais descontraído e menos tradicional. O Bairro Getúlio Vargas é formado por uma “Comunidade de interesse”, como a frase sugere, é formada por uma rede de associação que são predominantemente caracterizadas por seu comportamento em relação a um interesse comum, a carência em todos os sentidos. Uma vez que esta Comunidade não está delimitada por uma área geográfica particular. (Quer dizer também que Comunidade de interesse tende a ser explicitas ideologicamente, de forma a que mesmo se seus membros venham de áreas geográficas diferentes, eles podem de maneira relativamente fácil reconhecer sua identidade comum Kershaw: 1992,31).
            Segundo (Van Erveu: 2001,2). Os diferentes estilos do teatro na comunidade se unem por “sua ênfase em histórias pessoais e locais (em vez de peças prontas) que são trabalhos inicialmente através de improvisações e ganham forma teatral coletivamente”. Seus materiais e formas sempre emergem diretamente (se não exclusivamente) da comunidade, cujos interesses se tenta expressar. No percurso desse trabalho pela prática do Teatro na Comunidade, identificamos especialmente dentre os três modelos que se diferenciam em função dos objetivos e métodos serem decididos ou não pelas pessoas que participam dos projetos teatrais, o Teatro por Comunidade que trabalha a inclusão da própria comunidade. Este percurso não é único, ele representa um olhar sobre as práticas que podem contribuir como um referencial para análise das práticas Teatrais na Comunidade. Tendo influencialmente as idéias de Augusto Boal, inclui as pessoas da comunidade no processo de criação teatral. Em vez de fazer peças dizendo o que os outros devem fazer, passou-se a perguntar ao povo, ou seja: aos alunos (escola), o conteúdo do teatro os meios de produção e criação de esquetes para que juntos possam decidir o que vão trabalhar.
            Essa evolução proposta por Boal influenciou muitos trabalhos de teatro e comunidade no mundo todo. Ganhou forma um novo Teatro na Comunidade cuja função seria de fortalecer a comunidade. O Teatro passou a ser a arena privilegiada para refletir sobre questões de identidade de comunidades específicas, contribuindo para o aprofundamento das relações entre os diferentes segmentos da comunidade que podem, através da improvisação, do jogo teatral, explicitar suas semelhanças e diferenças. O teatro seria, neste sentido, o porta-voz de assuntos locais, o que poderia contribuir para expressão de vozes silenciosa ou silenciadas da própria comunidade. O grupo Metamorfose faz seus ensaios na sexta-feira da 14hs às 17hs, na própria Escola, compreendendo um total de 13 (treze), crianças que variam de 10 a 13 anos. A relação é de harmonia e respeito uns para com outros. Isso é um dos fatos que mais nos chamou a atenção na entrevista. Apesar de serem crianças desprovidas de uma condição de vida desfavorecida, são todos extremamente educados e carinhosos. O grupo trabalha expressão vocal, improvisação, leituras e juntos pesquisas de texto para a montagem das peças e esquetes. Esteticamente, podemos observar que é uma forma de fazer teatral, ainda inspirada no tradicional. Geralmente as obras escolhidas sempre trás um fundo moral, como no momento agora, estão trabalhando com o tema do Natal, e foi montada a esquete, O Tribunal do Natal, aonde se trabalha os valores e as questões sociais do que realmente significa o Natal. Uma mensagem que é transmitida a comunidade sobre o consumismo exacerbado que envolve o Natal. Percebemos que o grupo tem uma dificuldade em trabalhar a expressão corporal.  O grupo já se apresentou em vários espaços fora da Escola. Quanto à relação de atores e espectadores, é uma relação de cumplicidade, de parceria, uma vez que a comunidade também tem sua participação efetiva na construção de conhecimento.
Maicon Barbosa
  

sábado, 13 de agosto de 2011

Dialogando com Brecht e Paulo Freire

Após a leitura do texto “Teatro e Comunidade: Dialogando com Brecht e Paulo Freire” pude compreender melhor os métodos de trabalho de Bertolt Brecht e Paulo Freire e percebi o quanto tem ligações um com o trabalho do outro.
O dramaturgo alemão Bertolt Brecht propõe o distanciamento ou efeito V com a finalidade de a arte assumir o compromisso da urgente transformação da sociedade, o autor pensa que se você se distanciar de um problema conseguirá enxergar ele com outros olhos, pois se você se encontra dentro dele não conseguirá resolve-lo.
Brecht assim como Paulo Freire preocupou-se com a sociedade, usou a sua arte como ferramenta para novas possibilidades de ação transformadora. Ele pensa que o ser humano tem de pensar sobre o mundo, tem que agir, não apenas viver sem nenhuma perspectiva de mudança.
Paulo Freire com o seu conceito de codificação vai mais além do que Brecht, ele pensa que o ser humano não pode apenas se distanciar dos problemas para tentar resolve-lo tem que analisar o problema e pensar sobre, tentando de alguma forma modificá-lo.
Brecht com o distanciamento quer que o indivíduo, através do teatro, tente encontrar o problema e Paulo Freire quer que analise.
Freire nos fundamenta numa necessidade de envolvimento com a realidade vivida por uma determinada comunidade, Brecht nos alimenta com alternativas concretas para o trabalho teatral.
A semelhança entre os dois autores salta aos olhos e o paralelo entre os dois conceitos reforça esta percepção: ambos buscam uma maior compreensão e engajamento crítico com vistas à transformação da realidade através de um exercício de distância sobre elementos da realidade.
Ao meu ver os dois métodos são bem parecidos, ambos autores pensam na perspectiva de um mundo melhor e que os agentes de transformações são meramente os que vivem em sociedade, eles não conseguiram “mudar o mundo”, pois isso seria e é impossível, mas se você conseguir mudar uma pequena parcela de pessoas, um grupo de alunos da escola na qual você irá trabalhar ou uma comunidade, você já está contribuindo para uma mudança, para uma ação transformadora.
São essas lições de vida que esses dois autores nos propõem com esses dois métodos de ensino.
Maicon Barbosa



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O legado de Michael Jackson




A música acalenta minha alma,mexe com meu ego e inspira meus sentimentos. São várias as canções que contruiram meu passado,constroem meu presente e com certeza construirão meu futuro.

Poderia ter escolhido para analisar em meu "Museu imaginário" qualquer obra do grande poeta e ídolo Renato Russo, pois parte de sua coletânea musical mexem, de alguma forma, em meus sentimentos. Renato é minha grande inspiração, pelo grande artista que representou, por sua ousadia de comunicar, através da música, um dos poucos que conseguiram tal façanha.Um artista que morreu há mais de 10 anos e continua sendo atual ,suas músicas servindo de trilha para uma nova geração, provando que, quando um artista rompe com o óbvio, é imortalizado.

Isso , certamente, acontecerá com outro fenômeno musical , que morreu recentemente e causou comoção mundialmente, mas que deixa um legado artístico impossível de ser esquecido.

Conforme diz Mark Savage, Repórter de entretenimento da BBC News, no site BBC BRASIL:

“Michael Jackson era uma presença que se destacava no mundo da música pop - um gigante que ficava ombro a ombro com artistas como Elvis, Beatles e Frank Sinatra. Suas habilidades como cantor, compositor e arranjador e exímio bailarino foram, por vezes, ofuscadas por sua excentricidade, mas seu legado sem dúvida serão as canções que ele gravou.” (SAVAGE,Mark.2009).

Sua música continuará passando de gerações em gerações, seu estilo único estará sempre presente em nossso imaginário, Michael Jacksom será eternizado.

Escolhi a música They Don't Care About Us (Eles não ligam pra nós) pelo fato dessa representar uma expressividade na vida e carreira do cantor, a canção serviu de protesto a tudo que estava acontecendo na época, outro fato interessante é que o clipe foi filmado aqui no Brasil , na Favela Santa Marta do Rio de Janeiro e no Pelourinho.

Em 1995, quando a música foi lançada, teve uma grande repercussão na mídia e muitos críticos não aprovaram a reação do artista que expôs de forma agressiva sua opinião sobre o triste espetáculo que estava virando sua vida.

They Don't Care About Us (tradução)

Eles não ligam pra gente

Compositor: Michael Jackson


Michael, Michael, eles não ligam pra gente!

Sem cabeça
Todo mundo
Ficou louco
Situação
Frustração
Todo mundo
Alegação
No quarto
Nas notícias
Todo mundo
Comida de cachorro
Bang back
Morte chocante
Todo mundo
Ficou louco

Tudo que quero falar
É que eles não ligam pra gente

Bata em mim
Odeie-me
Você nunca vai
Me quebrar
Procure-me
Emocione-me
Você nunca vai
Me matar
Julgue-me
Processe-me
Todo mundo
Acabe comigo
Chute-me
Estraçalhe-me
Não diga que sou
Preto ou branco

Diga-me o que aconteceu com minha vida
Tenho uma mulher e dois filhos que me amam
Eu sou vítima da violência da polícia
Estou cansado de ser vítima do ódio
Você roubando o meu orgulho
Oh, pelo amor de Deus
Olho para os céus para cumprir a profecia
Liberte-me

Sem cabeça
Todo mundo
Ficou malvado
Trepidação
Especulação
Todo mundo
Alegação
No quarto
Nas notícias
Todo mundo
Comida de cachorro
Homem negro
Chantagem
Jogue o cara
Na cadeia

Diga-me o que aconteceu com meus direitos
Eu sou invisível? Porque você me ignora
Sua proclamação me prometeu liberdade
Estou cansado de ser vítima da vergonha
Eles estão acabando com minha reputação
Não acredito que essa é a terra de onde vim
Você sabe que eu na verdade odeio falar isso
O governo não quer enxergar
Mas se Roosevelt estivesse vivo
Ele não deixaria isso acontecer, não

Litígio
Bata em mim
Xingue-me
Você nunca vai
Me sujar
Ataque-me
Chute-me
Você nunca vai
Me pegar

Algumas coisas eles não querem enxergar na vida
Mas se o Martim Lutero estivesse vivo
Ele não deixaria isso acontecer, não

Segregação
Não
Julgue-me certo ou errado
Eles me mantêm no inferno

Estou aqui pra te lembrar



Minhas considerações...

O eu-lírico apresentado na música revela uma profunda tristeza por ser incompreendido. Também é possível observar o quanto ele sofre , sente-se em uma prisão,sua vida sendo vigiada e exposta , todos fazendo julgamentos precepitados, esquecendo que por trás do artista existe um ser humano.

Quando li a música o seu autor ainda não havia morrido. Eu me questionava: será que as acusações que pesam sobre o cantor são verdadeiras? É, no mínimo, muito estranho que um pai de família, sabendo que o astro havia sido acusado de pedofilia e, mesmo assim , permite que seu filho, ainda criança passe a visitar e dormir na caso do artista e, posteriormente, este pai vem a processar o cantor por pedofilia. Este pai não leva o processo adiante e faz um acordo milionário. Para um bom observador, a carreira de Michael Jackson começa a declinar a partir das acusações de pedofilia, acusações estas, que o astro sempre negou.

A música é um grito de desabafo, um pedido de socorro que , infelizmente , o mundo não escutou. Fica bastante confuso de usar a expressão eu-lírico porque percebe-se nitidamente que é o próprio artista que fala através de sua arte. Aqui o eu- poético se confunde com o homem e com o artista. Tendo tornado-se uma vítima da mídia, o homem que se fundiu com seu personagem teve um destino trágico.

O menino que não cresceu sente-se desprotegido, vítima do preconceito, mas sempre afirma que não será derrubado e , realmente, é o que acontece: o mundo não pode negar o seu legado artístico. As evidências de usurpação de sua imagem são muito nítidas.

Um dia assisti no fantástico uma colocação de Ariano Suassuna que me deixou consternado, pois ele se posicionou de uma forma muito radical, afirmando que Madonna e Michael Jackson eram a representação do lixo cultural. Sabemos que Ariano Suassuna tem alta representatividade no que se refere à arte, mas também não podemos esquecer que o conceito de arte é mutável, não é estanque e , mesmos os intelectuais mais reconhecidos podem se equivocar.

É preciso que se faça uma reflexão acerca dos parâmetros utilizados para definir em uma linguagem mais vulgar “ o que presta e o que não presta”. Que há um grupo seleto, mais preparado, podendo portanto definir o que pode e o que não pode ser arte, isto é inegável, mas o que não pode acontecer é negar a opinião de uma parcela da comunidade bastante expressiva.
Maicon Barbosa




A docência no teatro

Em busca por um ensino melhor.

A educação em nosso país está um caos. Segundo dados do jornal Zero Hora do dia 6 de fevereiro de 2011 o Brasil ocupa a 53º posição entre 65 países pesquisados pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando nos deparamos com esses números alarmantes queremos saber quem são os culpados pelo Brasil ocupar essa posição em relação a outros países.
Especialistas atribuem os péssimos índices da educação básica à falta de professores qualificados, e a queda de interesse pelas licenciaturas no vestibular confirmam essa interpretação.
Pergunto então: serão os professores os grandes culpados pela má qualidade de ensino? Penso que não. Pois a desvalorização dessa profissão começa pela péssima remuneração dos docentes, que sequer lhes permite investir na própria formação.  Somando-se a isso, temos as dificuldades do ensino na rede pública, a indisciplina dos alunos, turmas excessivamente grandes, e por aí vai.
Geralmente os estudantes universitários entram em choque com a realidade das escolas, pois a universidade não lhes dá o suporte necessário para que esses possam enfrentar uma realidade que não se encontram nos livros estudados na faculdade.
Penso que para ser um profissional da educação você tem que amar a docência em primeiro lugar, uma vez que os desafios a serem enfrentados são muitos nesta longa jornada diária.
Eu escolhi o curso de teatro - licenciatura por que em primeiro lugar gosto de teatro e também de ensinar. Teremos muitos desafios pela frente, pois o teatro como disciplina obrigatória está sendo implantado aos poucos dentro das escolas. Estaremos contribuindo por um ensino melhor e de qualidade no nosso país. Esta será a oportunidade e a chance de mudar os baixos índices da educação no Brasil.
Espero que os governantes do nosso país tenham um pouco mais de respeito com os profissionais da educação e nos devolvam a decência.
Maicon Barbosa

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O santo amargo da purificação no mercado público

Montagem do grupo “Oi Nóis Aqui Traveiz”
Domingo 24 de maio de 2009, uma linda tarde de sol, preparei meu chimarrão e rumei para o largo do mercado público a fim de assistir a apresentação teatral do grupo porto alegrense “Oi Nóis Aqui Traveiz” com o seu mais novo espetáculo “O Santo Amargo da Purificação”. Eu já conhecia o trabalho da trupe, pois em 2003 (ou 2004 não me recordo muito bem) eles tiveram aqui na cidade e se apresentaram também no largo do mercado público, admiro-os muito com seu trabalho de teatro de rua, dessa idéia de levar arte para aqueles que não têm acesso. 

Chegando ao mercado percebi que o público era totalmente diferente daquele da peça “Doce Deleite”, o público da trupe de atuadores eram artistas locais, estudantes de teatro, professores, mendigos, cachorros, pessoas que nunca tinham assistido a um espetáculo teatral, ou seja, um teatro para todos. 

A peça tinha como pano de fundo a ditadura militar e contava a história de vida e morte de um militante brasileiro que viveu nos duros tempos do regime militar. 

O cenário era o próprio mercado, a luz do dia servia de iluminação, porém o figurino, a maquiagem, os adereços e a marcante atuação dos atores nos “puxavam” para dentro da história, nos prendendo a atenção e não deixando nos dispersar em nenhum momento. O que mais me chamou a atenção é que os atores olhavam para dentro dos olhos de cada um de nós da platéia, nos fazendo acreditar na história que estava sendo encenada. 

A platéia estava muda, anestesiada, encantados com o belíssimo trabalho. 

São trabalhos como esses que nos estimulam a continuar na difícil caminhada do teatro, nos fazendo acreditar que se pode fazer sim um trabalho de excelentíssima qualidade sem precisar da “escada” da televisão. 
Maicon Barbosa

Gianecchini se "deleitando" no Teatro 7 de abril

Sexta-feira dia 22 de maio de 2009, comprei meu ingresso para assistir o espetáculo “Doce Deleite” comédia teatral sobre os bastidores do teatro com os globais Reynaldo Gianecchini e Camila Morgado sob a direção de Marília Pêra.

Foi uma correria até eu conseguir comprar esse ingresso, pois eu até então não tinha feito minha carteirinha estudantil para poder pagar meia entrada, o valor do ingresso achei totalmente fora da realidade da nossa cidade, R$ 60,00, parece-me que o valor exorbitante é para se ter um público seletivo,ou seja,espetáculo para a burguesia.

Montagem dirigida por Marília Pêra
Bom mas voltando para a compra do ingresso, consegui de última hora, tive a sorte de encontrar o DCE (Diretório Central dos Estudantes) aberto e pedi para que fizesse-me a carteirinha, com ela poderia pagar meia entrada nesse e em outros espetáculos teatrais. Sobrou-me apenas o balcão para assistir a peça, pois já estavam esgotados todos os ingressos para os três dias de apresentação. A moça da bilheteria aconselhou-me há chegar meia hora mais cedo porque as cadeiras do balcão não eram numeradas.

Sábado dia 23 de maio de 2009, seguindo os conselhos da “bilheteira” cheguei ao teatro meia hora mais cedo e logo vi que não tinha adiantado muito, pois a fila já chegava ao Caxeiral e daí reparei que minha observação acerca da valorização do ingresso estava correto, realmente o público era selecionado. As pessoas pareciam que estavam indo a uma ópera e não a um espetáculo teatral. E o mais engraçado nem era o “figurino”, era observar a “excitação” das pessoas em ver o Gianechinni.

Na fila fiz outra observação, vi que a grande maioria daquelas pessoas não estavam ali para assistirem a uma peça teatral e sim para verem um artista.

Estava ali para ali conhecer o trabalho teatral dos dois atores globais, pois na televisão estou acostumado a vê-los, porém no teatro ainda não. Gosto muito da atriz Camila Morgado e minha curiosidade justamente era em vê-la fazendo comédia, até então nunca tinha feito, era considerada uma atriz dramática.

A respeito da peça, não superou as minhas expectativas, esperava belas interpretações dos atores, principalmente de Camila Morgado. Personagens caricatos, estereotipados, clichês nas interpretações, a voz da Camila Morgado era igual para todos os personagens. Claro que eles tiveram uma excelente preparação vocal, ambos cantavam maravilhosamente bem em cena, porém não aparecia nos personagens.

O cenário e a iluminação eram de excelente qualidade. Como eram várias esquetes o cenário movimentava-se com a ajuda de dois divertidos contra-regras que os ajudavam também na troca de figurinos, tudo visível aos olhos da platéia.

As mulheres deleitavam-se em cada troca de figurino do ator, o que tornava o espetáculo ainda mais engraçado.


Concluo que foi importante ter assistido a peça ”Doce Deleite” com os dois atores globais, para verificar que são atores normais que erram e acertam como nós meros estudantes de teatro.

E sendo nós estudantes de teatro não podemos nos prender a preconceitos contra ”tipos de teatro”, temos que deixá-los de lado e assistir a todos.
Maicon Barbosa

O belo é importante para o teatro?

"Quartet" montagem dirigida por Bob Wilson
Fernando pessoa já dizia: “A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe, que dou às coisas em troca de agrado que me dão.”
Partindo desse pensamento, falar de beleza no teatro é complicado, pois sabemos que existe muitas formas do fazer teatral, e que desde os primórdios  na Grécia antiga com os rituais dionisíacos até o presente momento com a contemporaneidade, o teatro foi transformando- se e vários autores, encenadores, pedadogos, contribuíram para essa renovação. E cada um teve sua importância dentro do contexto histórico do teatro.
Mas pensando especificamente sobre o belo, Platão fala que “O belo é o bem, a verdade, a perfeição; existe em si mesma, apartada do mundo sensível, residindo, portanto, no mundo das idéias. A idéia suprema da beleza pode determinar o que seja mais ou menos belo”, e também afirma que “...o homem tem uma atuação passiva no que concerne ao conceito de belo: não está sob sua responsabilidade o julgamento do que é ou não é belo”.
Por esses fatores, acho difícil afirmar que o belo seja realmente importante para o teatro, beleza é um estado da alma. O que é belo para um não o é para outro, não é um certo atributo objetivo que determinamos objetos detêm e outro não.
O teatro é muito abrangente, existem aqueles encenadores que preocuparam – se apenas com o trabalho do ator, como Stanislavski, Grotovski e Meyorhold, Grotovski mesmo com o seu “teatro pobre” dizia que se podia fazer teatro apenas com um ator e espectador, e outros com a espetacularidade, tais como os musicais da Broadway e o Teatro de Revista, que teve grande importância para o teatro brasileiro no século XX.
E então pergunto quais das duas formas de teatro tem mais importância? Quais desses autores tiveram mais relevância para o teatro? Quais dos dois tipos de teatro possuem mais beleza?
É difícil responder, o teatro, e também o artista, não pode ter um pensamento fechado, a diversidade existe para ser respeitada.
Penso que cada profissional da área deve escolher com que tipo de teatro gostaria de trabalhar e respeitar as outras opções.
Já que estética é a “ciência” da beleza, gostaria de tentar buscar respostas dentro dessa disciplina para com as perguntas acima, ou não, a pergunta de abertura do trabalho não será respondida nesse momento, pois como é uma pergunta muito complexa, penso que ainda não possuo argumentos relevantes para tal resposta, pode ser que a experiência me de subsídios para que eu construa uma resposta convincente e adequada para tal questionamento.
Também pode ser que eu não consiga responder, pois às vezes nem com a experiência adquirida conseguimos encontrar respostas para as nossas inquietações.
Concluo o meu trabalho trazendo uma fala do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que reforça o meu pensamento no que tange a questão do belo e a dificuldade de afirmar que o belo é importante para o teatro... “a dificuldade de se estudar a Estética é o fato de seu objeto – o belo – ser de ordem espiritual (Hegel, 1988:4), pois o belo não é um objeto de existência material, mas de existência subjetiva, inerente à atividade espiritual de cada indivíduo. Contudo, esse fato não chega a ser comprometedor para a compreensão do fenômeno estético, porque o "verdadeiro conteúdo do belo não é senão o espírito" (1988:73) ”.
A obra de arte não possui nenhuma utilidade a não ser aquela para a qual é construída: proporcionar a experiência estética.
Maicon Barbosa














Qual a estética do teatro hoje?

O teatro desde o seu início lá na Grécia antiga até a atualidade vem se modificando ao longo dos anos.
Autores, encenadores, atores, todos contribuíram na busca de uma nova estética para o teatro.
Artaud, Brecht, Grotowski, Samuel Beckett e o contemporâneo encenador americano Roberto Wilson, cada um dentro de sua época e no contexto em que viveram mudaram os rumos do teatro.
Artaud
 Artaud com o seu “teatro da crueldade”, lutava contra o realismo, subvertendo o texto e retomando o teatro ritualístico, pregava o uso de elementos mágicos que hipnotizassem o espectador, sem que fosse necessária a utilização de diálogos entre os personagens, e sim muita música, danças, gritos, sombras, iluminação forte e expressão corporal, que comunicariam ao público a mensagem, reproduzindo no palco os sonhos e os mistérios da alma humana.
Brecht com um teatro mais politizado renovou com o “Teatro épico” e propôs uma reflexão no espectador passivo. O teatro épico consiste em uma forma de composição teatral que polemiza com as unidades de ação, espaço e tempo e com as teorias de linearidade e uniformidade do drama, fundamentadas em determinada compreensão da Poética de Aristóteles elaborada na França renascentista. A catarse perde seu espaço na concepção teatral épica. Não cabe envolver o espectador em uma manta emocional de identidade com o personagem e fazê-lo sentir o drama como algo real, mas sim despertá-lo como um ser social.
Grotowski
Grotowski investe na relação ator- espectador e com o seu “teatro pobre”, elimina o que é supérfluo: maquiagem, figurinos, efeitos sonoros e de luz, além do cenário e da divisão palco/platéia. Centra-se na técnica pessoal e cênica do ator. O treinamento do ator é feito a partir de exercícios de exaustão, utilizados para se chegar a um estado de organicidade.
Já o escritor Irlandes Samuel Beckett inova a cena teatral com seus textos de perspectiva surreal, seu “estilo” de peça é classificado como teatro do absurdo. Um dos textos mais conhecidos de Beckett foi “Esperando Godot”, uma peça com apenas dois atos sobre dois homens que esperam Godot. A parte estranha, engraçada e trágica é que Godot nunca chega. O enredo baseia-se na falta de comunicação entre os personagens e na pausa do silêncio da espera de algo que não se resolve.
Esses são alguns exemplos de teatrólogos que mudaram de alguma forma os rumos do teatro, inovaram a estética teatral, revolucionando a cena teatral.
Para responder a pergunta que dá inicio ao trabalho quis fazer uma volta ao tempo e verificar as mudanças da estética teatral ao longo dos anos, penso que o teatro é muito abrangente e que não existe uma estética que defina o teatro hoje.
Nos últimos anos o teatro vem se inovando, a era “textocentrista” aos poucos está perdendo espaço na cena e os recursos audiovisuais ganham força. Este movimento é chamado de “teatro pós-dramático” pelo crítico e dramaturgo alemão Hans-Thies Lehmann. Lehmann é professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, e membro da Academia Alemã de Artes Cênicas. Pela Cosac Naify, publicou, em 2007, o livro Teatro pós-dramático, no qual oferece um vasto panorama dos processos teatrais dos anos 1970 aos 90, pontuando a utilização de tecnologias audiovisuais e a incorporação de elementos das artes plásticas, música, dança, cinema, vídeo e performance.
Um dos grandes exemplos desse “teatro pós – dramático” é a proposta cênica do encenador americano Robert Wilson, foco do meu trabalho, que desde os anos 70 vem mudando os rumos do teatro, como penso que não há uma estética que pode ser definida no teatro hoje, irei analisar a estética teatral desse artista multimídia. Mesmo ele não gostando de ser enquadrado dentro dessa estética, alguns críticos definem seu teatro como “pós –dramático”.
Robert Wilson, mais conhecido como Bob Wilson, nasceu em Waco, Texas em 4 de outubro de 1941. É uma figura polêmica na cena teatral, suas peças são conhecidas como experiências inovadoras e de vanguarda, pois em seus espetáculos o texto não tem importância, prioriza os aspectos visuais em detrimento da atuação dos atores, é um cruzamento de diversas formas estéticas, como as artes plásticas, a dança, a moda, a arquitetura, a música e o teatro.
O trabalho de maior repercussão de Bob Wilson e elevou seu nome aos quatro cantos do mundo foi à aclamada ópera "Einstein on the Beach" em parceria com o músico Philip Glass, que ocorreu no ano de 1976.
Uma das características de seus espetáculos é o tempo de duração que geralmente são longuíssimas, fogem do convencional e causam um certo desconforto na platéia, a exemplo disso temos dois espetáculos que revolucionaram a cena teatral , “KA MOUNTain and GUARDenia Terrace” que se estendeu por sete dias, foi encenada num vasto espaço ao ar livre, no festival das Artes de Shiraz no Irã.
Outro espetáculo de grande importância e de longa duração foi “The Life and Times of Joseph Stalin", que foi apresentada em São Paulo no Teatro Municipal, em 1974, a peça teve duração de 12 horas, sofreu censura do regime militar e teve o título da obra alterada para “The Life and Times of Dave Clark”. O nome do ditador soviético teve de ser substituído porque a censura achou que ali tinha algo. O que havia de subversivo, contudo, estava na encenação, que incluía atores imóveis, e na relação anárquica com a platéia, os espectadores tinham a liberdade de, por exemplo, entrar e sair a qualquer momento.
Montagem de Bob Wilson
Voltando a estética de Bob Wilson, que é o foco do meu trabalho, críticos dizem que ele imprimiu uma nova estética ao teatro, é considerado por muitos o Artaud e Brecht da atualidade e que seu “método” de trabalho futuramente será estudado nas Universidades.
Ele é totalmente contra o realismo, diz que o lema do seu trabalho é “uma imagem vale mais que mil palavras”, com essa frase fica claro que o texto para ele não tem significância alguma, ele odeia as Escolas de teatro que só ensinam a decorar textos, o importante para ele é o visual, não procura contar uma história, ele quer que o público crie a sua própria interpretação para tudo que está sendo observado, os atores geralmente trabalham na perspectiva de câmera lenta ou estática.
Teatro Oficina
José Celso Martinez Corrêa, encenador doTeatro Oficina de São Paulo, tem uma opinião a respeito da estética de Bob Wilson, “Um grande artista que recebe rios de dinheiro para fazer as pessoas dormir no teatro. As grandes verbas vão para ele, que talvez seja mesmo o sujeito que melhor exprime o nosso tempo, dentro de um sistema liberal imposto. Sua estética profilática, com camisinha, é absolutamente querida por essa nova dominação colonial".
Mas para Wilson se as pessoas dormirem no seu espetáculo já estão “criando” algo. O interesse dele é na contemplação do momento presente, assim como acontece na apreciação de um retrato, ou de uma paisagem, um quadro ou natureza-morta. O espectador cria uma relação a partir da percepção da superfície das coisas, do rigor que a forma imprime em seus objetos ou cenários teatrais, da presença do silêncio, da suspensão do tempo, da contemplação do vazio, para que se possa “sentir” e “ver” o que não acontece.
Para concluir o meu trabalho, volto à questão de que não existe uma estética definida no teatro hoje, são várias as estéticas existentes, Bob Wilson está sendo o renovador da atualidade, como ocorreu em outras épocas com os encenadores e dramaturgos que já citei acima.
          Vamos ver quem será o próximo encenador ou dramaturgo que contribuirá  para a realização de uma nova estética teatral.
Maicon Barbosa

domingo, 7 de agosto de 2011

Meu encantamento por "Cordélia Brasil"

Primeira montagem com Norma Bengell
                             Para entendermos o enredo da peça vamos verificar a sinopse.
Cordélia Brasil é uma mulher que se sacrifica em nome do homem que ama. Para sustentar seu marido Leônidas Barbosa, que sonha em ser escritor de histórias em quadrinhos, Cordélia, além de trabalhar como auxiliar de escritório, começa a se prostituir. Ela traz para casa um jovem cliente de 16 anos, Rico que ,convidado por Leônidas, acaba morando com eles. Forma-se, então, um triângulo amoroso, em que se insinua a cumplicidade entre os dois homens, já que Rico se identifica com o comportamento de Leônidas para com Cordélia.
A relação torna-se cada vez mais conflituosa, pois ela quer que o marido trabalhe e ele quer só ficar em casa, conservando a beleza e a juventude,não se importando com o trabalho duplo da sua companheira .Leônidas se apega ao Rico ,por ele ser jovem. O final é um pouco absurdo e, ao mesmo tempo, poético e trágico.
Antes de fazer considerações acerca da peça teatral “Cordélia Brasil” vamos ao histórico disponibilizado no site “Itaú cultural”.
Primeiro texto de Antônio Bivar a chamar a atenção, encenado por Emílio Di Biasi, que estréia na direção e protagonizado pela musa do cinema nacional, Norma Bengell. A peça causa polêmica por mostrar a vida íntima de um casal e valorizar a subjetividade das personagens, que expressam sem pudores suas misérias tendência que diverge da dramaturgia engajada da geração anterior O texto, cujo título original é O Começo É Sempre Difícil, Cordélia Brasil, Vamos Tentar Outra Vez, é premiado no 1º Seminário de Dramaturgia do Rio de Janeiro, em 1967. No ano seguinte, a montagem é interditada pela Censura durante o período de ensaios, juntamente com Barrela, de Plínio Marcos, e Santidade, de José Vicente. Uma leitura dramática é organizada na cobertura de Danusa Leão para que os intelectuais cariocas conheçam a obra. O evento é bem-sucedido e os críticos vão aos jornais interceder pela liberação do texto, que consegue subir à cena ainda em 1968, com o título de Cordélia Brasil, no Teatro Mesbla.(CULTURAL,Itaú. 2009)

Minhas considerações...
Montagem do Teatro Oficina de Pelotas
A paixão pelo texto aconteceu de forma imediata, pelo fato deste abordar um realismo poético. Como já disse anteriormente, participei da montagem em 2003, com atores amadores do “Grupo Oficina de Pelotas”. O texto exigia uma interpretação mais convincente dos atores, uma preparação mais elaborada, e uma entrega maior para com seus personagens.
Um dos trabalhos mais importantes para o grupo: meses de ensaios exaustivos, até os atores criarem uma sintonia e harmonia entre eles. Foi muito interessante ver o crescimento dos integrantes em cada ensaio. Participei de todas as etapas do processo evolutivo.
O teatro realista, no meu entendimento, exige mais dos atores, por se tratar de personagens reais, humanizados. Sou apreciador desse tipo de teatro, gosto de observar a reação da platéia quando esta faz uma reflexão acerca do que é apresentado.
O teatro tem o dever de comunicar, não apenas entreter, mas quando as duas idéias se unem, quem ganha é o espectador. Esse é o caso do espetáculo “Cordélia Brasil”, escrito por Antonio Bivar ,no final da década de 60, e encenado, pela primeira vez, em 1967,no auge da ditadura militar. O público identifica-se com os personagens que constroem o enredo da peça, uma tragicomédia, como classifica o autor no site “Jornal Spiner”.
Maria Padilha no papel título
“É uma tragicomédia, um clássico, está em forma, não é datado pois não é panfletária, nem política. Além disso, tem uma compaixão, uma ternura, com doses de humor”.(SPINER,jornal.2009)
Mas foi no ano de 2003 que fui apresentado à Cordélia Brasil, Leônidas Barbosa e Rico,os três personagens que te levam a embarcar nas emoções e aventuras do texto.  Para nos familiarizarmos com os personagens vamos conhecê-los mais profundamente:
Leônidas Barbosa, 28 anos, espírito anarquista, alienado, inventivo, brincalhão, sonhador, romântico. Cordélia Brasil , 28 anos, realista, mas ingênua e absurda.  Seu carma é o de ser batalhadora, sem chances nem oportunidades, que repentinamente, torna-se mulher de pavio curto, que explode e acaba com tudo. Rico, 16 anos. Descobrindo a vida.
A peça, de um ato apenas, nos apresenta uma heroína romântica, que foge do convencional,uma guerreira que vive em busca da felicidade, que ama seu marido e faz de tudo para agradá –lo.  Ela trabalha como auxiliar de escritório para sustentá-lo, começa a se prostituir para aumentar a renda de ambos.
Meu amor por essa peça, ou melhor, pela personagem principal,Cordélia Brasil,é justamente por ela fugir dos esteriótipos de prostitutas, por se mostrar sensível  e ,até mesmo, ingênua .
Durante um programa com um turco, ela descobre, fazendo uma introspecção:  na verdade não é nem uma ‘biscate’, nem uma auxiliar de escritório, nem uma dona-de-casa. Passa por uma espécie de crise existencial. Sonha em ter uma filha e ensinar tudo o que “essa vida maldita lhe ensinou”. Desiste de esperar que o marido mude, ficou dois anos esperando que ele, pelo menos, escrevesse um romance de sua vida, a visse como inspiração e cansa. Expulsa seu marido de casa e acaba por cometer suicídio.
Umas das frases de que eu mais gostei da peça, curiosamente, foi o título original, quando esta foi lançada, fez -me  refletir  acerca de meu futuro teatral...“O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez”.
Maicon Barbosa

Um novo olhar para o filme PIAF – UM HINO AO AMOR

  

Uma breve introdução...
Para quem não assistiu, aqui vai uma resenha do filme.
A vida da cantora francesa Edith Piaf, no filme representada por Marion Cottilard ,foi sempre muito difícil.                      
Abandonada pela mãe, foi criada pela avó, esta última, dona de um bordel na Normandia. Dos 3 aos 7 anos de idade ficou cega, recuperando-se milagrosamente. Mais tarde viveu com o pai, alcoólatra, e ambos vão trabalhar em um circo.
                           Aos quinze anos abandona o pai para cantar nas ruas de Paris. Após anos na estrada, acabou sendo descoberta por um caça-talentos que lhe apelidou de Piaf (passarinho, em francês) e lhe deu a oportunidade de cantar em alguns cabarés bem frequentados. Neste mesmo ano gravou seu primeiro disco.
A vida sofrida é repleta de altos e baixos, mas seu talento foi coroado internacionalmente. Por se tratar de uma estrela cheia de excentricidades, sua vida  foi constantemente vigiada pela opinião pública.

Minhas Considerações...
Coincidência ou não, a primeira vez que tive contato com a música de Edith Piaf foi na peça “Cordélia Brasil”, encenada pelo “Grupo Oficina de Pelotas” em 2003, sob direção de Flávio Dornelles.
Trabalhei nos bastidores da peça. Quando a música “Non, je ne regrette rien”(“Não,eu não lamento nada”) começava a tocar sabia que era hora de abrir as cortinas e assim dava-se início ao espetáculo. Ficava encantado ouvindo a voz suave, diferenciada e única dessa cantora francesa que, até então, desconhecia. A cada apresentação me perguntava: como podia eu não ter descoberto ainda essa grande artista? O importante foi que com essa peça fui apresentado a Edith Piaf.
Em 2008, quando soube que sairia a cinebiografia de Piaf ,sob direção de Olivier Dahan, fiquei feliz, pois agora teria o privilégio  de conhecer profundamente a vida e a obra dessa extraordinária cantora.
Preferi comprar o DVD e não assisti-lo no cinema, um filme como esse é bom para ser apreciado sozinho e também assistido mais de uma vez.
 Os 140 minutos de duração do filme podem até parecer poucos, porém, são suficientes para te fazer adentrar na história da vida de Edith Piaf e se emocionar com os percalços que teve ,ao longo, de sua trajetória rumo ao estrelato.
A atriz convence,e muito bem,em todas as fases da vida da cantora,de adolescente problemática a fase terminal da doença,que foi a consumindo aos poucos e levando-a a morte prematura.
Com certeza, o que mais me chama a atenção em um filme é a atuação dos atores,não só em filmes, obviamente,mas como estamos falando especificamente da sétima arte,por isso tal afirmação.
O que me agradou no filme foi ver a atuação marcante da atriz Marion Cottilard na personificação de Piaf. É lindo ver quando um ator se entrega de corpo e alma na vida de um personagem, ainda mais quando esse é real e não fictício.
Críticos do filme dizem que a atriz  não interpretou ,simplesmente, viveu cada momento na vida da cantora “O mais impressionante mergulho de uma artista no corpo e alma de uma outra artista que jamais vi no cinema” (STHEPHEN,Heindent.The New York Times.2008).
Esse outro crítico, Francisco Russo, faz uma análise mais minuciosa em termos técnicos e também da interpretação da  atriz ,disponibilizado no site “adoro cinema”.
“Se este fosse um filme americano, apostaria minhas fichas em muitas indicações ao           próximo Oscar. Como é francês a situação complica um pouco, já que é difícil que filmes estrangeiros consigam várias indicações na premiação. Muitas vezes nem é por demérito do filme, mas pela política interna, que acaba favorecendo os filmes locais. Algo até natural, qualquer premiação é assim - basta lembrar do explícito favorecimento do BAFTA aos filmes ingleses.  Piaf é um filme belíssimo. De emocionar mesmo. Muito bem produzido e roteirizado, mostrando diversas fases da vida de Edith Piaf de forma intercalada, sem jamais confundir o espectador. Tudo embalado pelas músicas da cantora, que permeiam todo o longa-metragem. Só por elas já valeria assistir ao filme, mas Piaf oferece muito mais. Porém todo o capricho na produção poderia ser desperdiçado caso a escolha da intérprete de Piaf fosse equivocada. Não é. Marion Cotillard está exuberante em cena. Ela adquiriu os trejeitos de Piaf, sua forma de andar… é algo realmente impressionante. Seu olhar transmite uma angústia pela vida sofrida e ao mesmo tempo a esperança em ser aceita pelo público. É algo cativante, até mesmo difícil de explicar. É preciso ver e se admirar. Piaf não é apenas um dos melhores filmes deste Festival do Rio, é dos melhores filmes do ano. Veja e não se esqueça de levar um lenço. É difícil resistir ao choro em determinadas cenas, especialmente na reta final.”(RUSSO,Francisco.2009)

A cena que fez verter lágrimas dos meus olhos foi quando a cantora ,  já debilitada , por conta do avanço da doença, não podendo mais cantar, cai no palco e é levada para o camarim onde ela implora que a levem de volta ao palco,dizendo que precisa cantar,que não tem escolha,que se não cantar pelo menos aquela noite, nunca mais poderá acreditar nela mesma.  Todos comovidos acatam seu pedido e ela é levada de volta ao palco,mas infelizmente não consegue cantar e enfraquecida cai novamente.
O pior que pode existir para um artista são as lembranças daquilo que ele foi um dia, é guardar na memórias os aplausos que ficam de uma carreira construída de muito esforço e talento.
Edith soube que não poderia mais cantar, por conta de seus excessos, teve liberdade e não soube aproveitá –la.
Uma curiosidade acerca de seu sobrenome , Piaf (passarinho, em francês): se cortam as asas de um pássaro ele não poderá mais voar e sua vida não terá mais sentido. Edith foi proibida de cantar ,tendo que amargar nas lembranças das cortinas se abrindo e o teatro lotado, contemplando a grande artista que foi um dia. Fica o questionamento:ela morreu pela doença, é certo,mas será que o parar de cantar, não foi a retirada de asas que acelerou o seu fim?
Não posso deixar de mencionar a sequência de cenas que antecedem o final: Piaf em uma praia, no ápice da solidão, costurando um pulôver, chega uma repórter e pergunta:
- Qual é a melhor lembrança de sua carreira?
Piaf responde:
- Cada vez que a cortina levanta.
- Se fosse dar um conselho a uma mulher, qual seria?
Piaf responde:
- Ame
- A uma jovem?
Piaf responde:
- Ame
- A uma criança?
Piaf responde:
- Ame.(Piaf,um hino ao amor.2008)
Três momentos marcantes na vida da cantora dão sequência ao final: a sofrida infância,  a solidão em um quarto de hotel e a glória no palco. O filme encerra com a música de maior sucesso da intérprete, a mesma que ouvi pela primeira vez  e que me fez ficar encantado por Edith Piaf, “ Non, je ne regrette rien” ( “Não, eu não lamento nada).
A escolha pelo filme Piaf- um hino ao amor fazer parte do um museu imaginário foi, unicamente, por mostrar a paixão de duas grandes artistas pela arte,uma cantora que canta com a alma e uma atriz que interpreta com o coração.
Maicon Barbosa