Uma breve introdução...
Para quem não assistiu, aqui vai uma resenha do filme.
A vida da cantora francesa Edith Piaf, no filme representada por Marion Cottilard ,foi sempre muito difícil.
Abandonada pela mãe, foi criada pela avó, esta última, dona de um bordel na Normandia. Dos 3 aos 7 anos de idade ficou cega, recuperando-se milagrosamente. Mais tarde viveu com o pai, alcoólatra, e ambos vão trabalhar em um circo.
Aos quinze anos abandona o pai para cantar nas ruas de Paris. Após anos na estrada, acabou sendo descoberta por um caça-talentos que lhe apelidou de Piaf (passarinho, em francês) e lhe deu a oportunidade de cantar em alguns cabarés bem frequentados. Neste mesmo ano gravou seu primeiro disco.
A vida sofrida é repleta de altos e baixos, mas seu talento foi coroado internacionalmente. Por se tratar de uma estrela cheia de excentricidades, sua vida foi constantemente vigiada pela opinião pública.
Minhas Considerações...
Coincidência ou não, a primeira vez que tive contato com a música de Edith Piaf foi na peça “Cordélia Brasil”, encenada pelo “Grupo Oficina de Pelotas” em 2003, sob direção de Flávio Dornelles.
Trabalhei nos bastidores da peça. Quando a música “Non, je ne regrette rien”(“Não,eu não lamento nada”) começava a tocar sabia que era hora de abrir as cortinas e assim dava-se início ao espetáculo. Ficava encantado ouvindo a voz suave, diferenciada e única dessa cantora francesa que, até então, desconhecia. A cada apresentação me perguntava: como podia eu não ter descoberto ainda essa grande artista? O importante foi que com essa peça fui apresentado a Edith Piaf.
Em 2008, quando soube que sairia a cinebiografia de Piaf ,sob direção de Olivier Dahan, fiquei feliz, pois agora teria o privilégio de conhecer profundamente a vida e a obra dessa extraordinária cantora.
Preferi comprar o DVD e não assisti-lo no cinema, um filme como esse é bom para ser apreciado sozinho e também assistido mais de uma vez.
Os 140 minutos de duração do filme podem até parecer poucos, porém, são suficientes para te fazer adentrar na história da vida de Edith Piaf e se emocionar com os percalços que teve ,ao longo, de sua trajetória rumo ao estrelato.
A atriz convence,e muito bem,em todas as fases da vida da cantora,de adolescente problemática a fase terminal da doença,que foi a consumindo aos poucos e levando-a a morte prematura.
Com certeza, o que mais me chama a atenção em um filme é a atuação dos atores,não só em filmes, obviamente,mas como estamos falando especificamente da sétima arte,por isso tal afirmação.
O que me agradou no filme foi ver a atuação marcante da atriz Marion Cottilard na personificação de Piaf. É lindo ver quando um ator se entrega de corpo e alma na vida de um personagem, ainda mais quando esse é real e não fictício.
Críticos do filme dizem que a atriz não interpretou ,simplesmente, viveu cada momento na vida da cantora “O mais impressionante mergulho de uma artista no corpo e alma de uma outra artista que jamais vi no cinema” (STHEPHEN,Heindent.The New York Times.2008).
Esse outro crítico, Francisco Russo, faz uma análise mais minuciosa em termos técnicos e também da interpretação da atriz ,disponibilizado no site “adoro cinema”.
“Se este fosse um filme americano, apostaria minhas fichas em muitas indicações ao próximo Oscar. Como é francês a situação complica um pouco, já que é difícil que filmes estrangeiros consigam várias indicações na premiação. Muitas vezes nem é por demérito do filme, mas pela política interna, que acaba favorecendo os filmes locais. Algo até natural, qualquer premiação é assim - basta lembrar do explícito favorecimento do BAFTA aos filmes ingleses. Piaf é um filme belíssimo. De emocionar mesmo. Muito bem produzido e roteirizado, mostrando diversas fases da vida de Edith Piaf de forma intercalada, sem jamais confundir o espectador. Tudo embalado pelas músicas da cantora, que permeiam todo o longa-metragem. Só por elas já valeria assistir ao filme, mas Piaf oferece muito mais. Porém todo o capricho na produção poderia ser desperdiçado caso a escolha da intérprete de Piaf fosse equivocada. Não é. Marion Cotillard está exuberante em cena. Ela adquiriu os trejeitos de Piaf, sua forma de andar… é algo realmente impressionante. Seu olhar transmite uma angústia pela vida sofrida e ao mesmo tempo a esperança em ser aceita pelo público. É algo cativante, até mesmo difícil de explicar. É preciso ver e se admirar. Piaf não é apenas um dos melhores filmes deste Festival do Rio, é dos melhores filmes do ano. Veja e não se esqueça de levar um lenço. É difícil resistir ao choro em determinadas cenas, especialmente na reta final.”(RUSSO,Francisco.2009)
A cena que fez verter lágrimas dos meus olhos foi quando a cantora , já debilitada , por conta do avanço da doença, não podendo mais cantar, cai no palco e é levada para o camarim onde ela implora que a levem de volta ao palco,dizendo que precisa cantar,que não tem escolha,que se não cantar pelo menos aquela noite, nunca mais poderá acreditar nela mesma. Todos comovidos acatam seu pedido e ela é levada de volta ao palco,mas infelizmente não consegue cantar e enfraquecida cai novamente.
O pior que pode existir para um artista são as lembranças daquilo que ele foi um dia, é guardar na memórias os aplausos que ficam de uma carreira construída de muito esforço e talento.
Edith soube que não poderia mais cantar, por conta de seus excessos, teve liberdade e não soube aproveitá –la.
Uma curiosidade acerca de seu sobrenome , Piaf (passarinho, em francês): se cortam as asas de um pássaro ele não poderá mais voar e sua vida não terá mais sentido. Edith foi proibida de cantar ,tendo que amargar nas lembranças das cortinas se abrindo e o teatro lotado, contemplando a grande artista que foi um dia. Fica o questionamento:ela morreu pela doença, é certo,mas será que o parar de cantar, não foi a retirada de asas que acelerou o seu fim?
Não posso deixar de mencionar a sequência de cenas que antecedem o final: Piaf em uma praia, no ápice da solidão, costurando um pulôver, chega uma repórter e pergunta:
- Qual é a melhor lembrança de sua carreira?
Piaf responde:
- Cada vez que a cortina levanta.
- Se fosse dar um conselho a uma mulher, qual seria?
Piaf responde:
- Ame
- A uma jovem?
Piaf responde:
- Ame
- A uma criança?
Piaf responde:
- Ame.(Piaf,um hino ao amor.2008)
Três momentos marcantes na vida da cantora dão sequência ao final: a sofrida infância, a solidão em um quarto de hotel e a glória no palco. O filme encerra com a música de maior sucesso da intérprete, a mesma que ouvi pela primeira vez e que me fez ficar encantado por Edith Piaf, “ Non, je ne regrette rien” ( “Não, eu não lamento nada).
A escolha pelo filme Piaf- um hino ao amor fazer parte do um museu imaginário foi, unicamente, por mostrar a paixão de duas grandes artistas pela arte,uma cantora que canta com a alma e uma atriz que interpreta com o coração.
Maicon Barbosa