domingo, 7 de agosto de 2011

Meu encantamento por "Cordélia Brasil"

Primeira montagem com Norma Bengell
                             Para entendermos o enredo da peça vamos verificar a sinopse.
Cordélia Brasil é uma mulher que se sacrifica em nome do homem que ama. Para sustentar seu marido Leônidas Barbosa, que sonha em ser escritor de histórias em quadrinhos, Cordélia, além de trabalhar como auxiliar de escritório, começa a se prostituir. Ela traz para casa um jovem cliente de 16 anos, Rico que ,convidado por Leônidas, acaba morando com eles. Forma-se, então, um triângulo amoroso, em que se insinua a cumplicidade entre os dois homens, já que Rico se identifica com o comportamento de Leônidas para com Cordélia.
A relação torna-se cada vez mais conflituosa, pois ela quer que o marido trabalhe e ele quer só ficar em casa, conservando a beleza e a juventude,não se importando com o trabalho duplo da sua companheira .Leônidas se apega ao Rico ,por ele ser jovem. O final é um pouco absurdo e, ao mesmo tempo, poético e trágico.
Antes de fazer considerações acerca da peça teatral “Cordélia Brasil” vamos ao histórico disponibilizado no site “Itaú cultural”.
Primeiro texto de Antônio Bivar a chamar a atenção, encenado por Emílio Di Biasi, que estréia na direção e protagonizado pela musa do cinema nacional, Norma Bengell. A peça causa polêmica por mostrar a vida íntima de um casal e valorizar a subjetividade das personagens, que expressam sem pudores suas misérias tendência que diverge da dramaturgia engajada da geração anterior O texto, cujo título original é O Começo É Sempre Difícil, Cordélia Brasil, Vamos Tentar Outra Vez, é premiado no 1º Seminário de Dramaturgia do Rio de Janeiro, em 1967. No ano seguinte, a montagem é interditada pela Censura durante o período de ensaios, juntamente com Barrela, de Plínio Marcos, e Santidade, de José Vicente. Uma leitura dramática é organizada na cobertura de Danusa Leão para que os intelectuais cariocas conheçam a obra. O evento é bem-sucedido e os críticos vão aos jornais interceder pela liberação do texto, que consegue subir à cena ainda em 1968, com o título de Cordélia Brasil, no Teatro Mesbla.(CULTURAL,Itaú. 2009)

Minhas considerações...
Montagem do Teatro Oficina de Pelotas
A paixão pelo texto aconteceu de forma imediata, pelo fato deste abordar um realismo poético. Como já disse anteriormente, participei da montagem em 2003, com atores amadores do “Grupo Oficina de Pelotas”. O texto exigia uma interpretação mais convincente dos atores, uma preparação mais elaborada, e uma entrega maior para com seus personagens.
Um dos trabalhos mais importantes para o grupo: meses de ensaios exaustivos, até os atores criarem uma sintonia e harmonia entre eles. Foi muito interessante ver o crescimento dos integrantes em cada ensaio. Participei de todas as etapas do processo evolutivo.
O teatro realista, no meu entendimento, exige mais dos atores, por se tratar de personagens reais, humanizados. Sou apreciador desse tipo de teatro, gosto de observar a reação da platéia quando esta faz uma reflexão acerca do que é apresentado.
O teatro tem o dever de comunicar, não apenas entreter, mas quando as duas idéias se unem, quem ganha é o espectador. Esse é o caso do espetáculo “Cordélia Brasil”, escrito por Antonio Bivar ,no final da década de 60, e encenado, pela primeira vez, em 1967,no auge da ditadura militar. O público identifica-se com os personagens que constroem o enredo da peça, uma tragicomédia, como classifica o autor no site “Jornal Spiner”.
Maria Padilha no papel título
“É uma tragicomédia, um clássico, está em forma, não é datado pois não é panfletária, nem política. Além disso, tem uma compaixão, uma ternura, com doses de humor”.(SPINER,jornal.2009)
Mas foi no ano de 2003 que fui apresentado à Cordélia Brasil, Leônidas Barbosa e Rico,os três personagens que te levam a embarcar nas emoções e aventuras do texto.  Para nos familiarizarmos com os personagens vamos conhecê-los mais profundamente:
Leônidas Barbosa, 28 anos, espírito anarquista, alienado, inventivo, brincalhão, sonhador, romântico. Cordélia Brasil , 28 anos, realista, mas ingênua e absurda.  Seu carma é o de ser batalhadora, sem chances nem oportunidades, que repentinamente, torna-se mulher de pavio curto, que explode e acaba com tudo. Rico, 16 anos. Descobrindo a vida.
A peça, de um ato apenas, nos apresenta uma heroína romântica, que foge do convencional,uma guerreira que vive em busca da felicidade, que ama seu marido e faz de tudo para agradá –lo.  Ela trabalha como auxiliar de escritório para sustentá-lo, começa a se prostituir para aumentar a renda de ambos.
Meu amor por essa peça, ou melhor, pela personagem principal,Cordélia Brasil,é justamente por ela fugir dos esteriótipos de prostitutas, por se mostrar sensível  e ,até mesmo, ingênua .
Durante um programa com um turco, ela descobre, fazendo uma introspecção:  na verdade não é nem uma ‘biscate’, nem uma auxiliar de escritório, nem uma dona-de-casa. Passa por uma espécie de crise existencial. Sonha em ter uma filha e ensinar tudo o que “essa vida maldita lhe ensinou”. Desiste de esperar que o marido mude, ficou dois anos esperando que ele, pelo menos, escrevesse um romance de sua vida, a visse como inspiração e cansa. Expulsa seu marido de casa e acaba por cometer suicídio.
Umas das frases de que eu mais gostei da peça, curiosamente, foi o título original, quando esta foi lançada, fez -me  refletir  acerca de meu futuro teatral...“O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez”.
Maicon Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário