segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Qual a estética do teatro hoje?

O teatro desde o seu início lá na Grécia antiga até a atualidade vem se modificando ao longo dos anos.
Autores, encenadores, atores, todos contribuíram na busca de uma nova estética para o teatro.
Artaud, Brecht, Grotowski, Samuel Beckett e o contemporâneo encenador americano Roberto Wilson, cada um dentro de sua época e no contexto em que viveram mudaram os rumos do teatro.
Artaud
 Artaud com o seu “teatro da crueldade”, lutava contra o realismo, subvertendo o texto e retomando o teatro ritualístico, pregava o uso de elementos mágicos que hipnotizassem o espectador, sem que fosse necessária a utilização de diálogos entre os personagens, e sim muita música, danças, gritos, sombras, iluminação forte e expressão corporal, que comunicariam ao público a mensagem, reproduzindo no palco os sonhos e os mistérios da alma humana.
Brecht com um teatro mais politizado renovou com o “Teatro épico” e propôs uma reflexão no espectador passivo. O teatro épico consiste em uma forma de composição teatral que polemiza com as unidades de ação, espaço e tempo e com as teorias de linearidade e uniformidade do drama, fundamentadas em determinada compreensão da Poética de Aristóteles elaborada na França renascentista. A catarse perde seu espaço na concepção teatral épica. Não cabe envolver o espectador em uma manta emocional de identidade com o personagem e fazê-lo sentir o drama como algo real, mas sim despertá-lo como um ser social.
Grotowski
Grotowski investe na relação ator- espectador e com o seu “teatro pobre”, elimina o que é supérfluo: maquiagem, figurinos, efeitos sonoros e de luz, além do cenário e da divisão palco/platéia. Centra-se na técnica pessoal e cênica do ator. O treinamento do ator é feito a partir de exercícios de exaustão, utilizados para se chegar a um estado de organicidade.
Já o escritor Irlandes Samuel Beckett inova a cena teatral com seus textos de perspectiva surreal, seu “estilo” de peça é classificado como teatro do absurdo. Um dos textos mais conhecidos de Beckett foi “Esperando Godot”, uma peça com apenas dois atos sobre dois homens que esperam Godot. A parte estranha, engraçada e trágica é que Godot nunca chega. O enredo baseia-se na falta de comunicação entre os personagens e na pausa do silêncio da espera de algo que não se resolve.
Esses são alguns exemplos de teatrólogos que mudaram de alguma forma os rumos do teatro, inovaram a estética teatral, revolucionando a cena teatral.
Para responder a pergunta que dá inicio ao trabalho quis fazer uma volta ao tempo e verificar as mudanças da estética teatral ao longo dos anos, penso que o teatro é muito abrangente e que não existe uma estética que defina o teatro hoje.
Nos últimos anos o teatro vem se inovando, a era “textocentrista” aos poucos está perdendo espaço na cena e os recursos audiovisuais ganham força. Este movimento é chamado de “teatro pós-dramático” pelo crítico e dramaturgo alemão Hans-Thies Lehmann. Lehmann é professor de Estudos Teatrais da Universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, e membro da Academia Alemã de Artes Cênicas. Pela Cosac Naify, publicou, em 2007, o livro Teatro pós-dramático, no qual oferece um vasto panorama dos processos teatrais dos anos 1970 aos 90, pontuando a utilização de tecnologias audiovisuais e a incorporação de elementos das artes plásticas, música, dança, cinema, vídeo e performance.
Um dos grandes exemplos desse “teatro pós – dramático” é a proposta cênica do encenador americano Robert Wilson, foco do meu trabalho, que desde os anos 70 vem mudando os rumos do teatro, como penso que não há uma estética que pode ser definida no teatro hoje, irei analisar a estética teatral desse artista multimídia. Mesmo ele não gostando de ser enquadrado dentro dessa estética, alguns críticos definem seu teatro como “pós –dramático”.
Robert Wilson, mais conhecido como Bob Wilson, nasceu em Waco, Texas em 4 de outubro de 1941. É uma figura polêmica na cena teatral, suas peças são conhecidas como experiências inovadoras e de vanguarda, pois em seus espetáculos o texto não tem importância, prioriza os aspectos visuais em detrimento da atuação dos atores, é um cruzamento de diversas formas estéticas, como as artes plásticas, a dança, a moda, a arquitetura, a música e o teatro.
O trabalho de maior repercussão de Bob Wilson e elevou seu nome aos quatro cantos do mundo foi à aclamada ópera "Einstein on the Beach" em parceria com o músico Philip Glass, que ocorreu no ano de 1976.
Uma das características de seus espetáculos é o tempo de duração que geralmente são longuíssimas, fogem do convencional e causam um certo desconforto na platéia, a exemplo disso temos dois espetáculos que revolucionaram a cena teatral , “KA MOUNTain and GUARDenia Terrace” que se estendeu por sete dias, foi encenada num vasto espaço ao ar livre, no festival das Artes de Shiraz no Irã.
Outro espetáculo de grande importância e de longa duração foi “The Life and Times of Joseph Stalin", que foi apresentada em São Paulo no Teatro Municipal, em 1974, a peça teve duração de 12 horas, sofreu censura do regime militar e teve o título da obra alterada para “The Life and Times of Dave Clark”. O nome do ditador soviético teve de ser substituído porque a censura achou que ali tinha algo. O que havia de subversivo, contudo, estava na encenação, que incluía atores imóveis, e na relação anárquica com a platéia, os espectadores tinham a liberdade de, por exemplo, entrar e sair a qualquer momento.
Montagem de Bob Wilson
Voltando a estética de Bob Wilson, que é o foco do meu trabalho, críticos dizem que ele imprimiu uma nova estética ao teatro, é considerado por muitos o Artaud e Brecht da atualidade e que seu “método” de trabalho futuramente será estudado nas Universidades.
Ele é totalmente contra o realismo, diz que o lema do seu trabalho é “uma imagem vale mais que mil palavras”, com essa frase fica claro que o texto para ele não tem significância alguma, ele odeia as Escolas de teatro que só ensinam a decorar textos, o importante para ele é o visual, não procura contar uma história, ele quer que o público crie a sua própria interpretação para tudo que está sendo observado, os atores geralmente trabalham na perspectiva de câmera lenta ou estática.
Teatro Oficina
José Celso Martinez Corrêa, encenador doTeatro Oficina de São Paulo, tem uma opinião a respeito da estética de Bob Wilson, “Um grande artista que recebe rios de dinheiro para fazer as pessoas dormir no teatro. As grandes verbas vão para ele, que talvez seja mesmo o sujeito que melhor exprime o nosso tempo, dentro de um sistema liberal imposto. Sua estética profilática, com camisinha, é absolutamente querida por essa nova dominação colonial".
Mas para Wilson se as pessoas dormirem no seu espetáculo já estão “criando” algo. O interesse dele é na contemplação do momento presente, assim como acontece na apreciação de um retrato, ou de uma paisagem, um quadro ou natureza-morta. O espectador cria uma relação a partir da percepção da superfície das coisas, do rigor que a forma imprime em seus objetos ou cenários teatrais, da presença do silêncio, da suspensão do tempo, da contemplação do vazio, para que se possa “sentir” e “ver” o que não acontece.
Para concluir o meu trabalho, volto à questão de que não existe uma estética definida no teatro hoje, são várias as estéticas existentes, Bob Wilson está sendo o renovador da atualidade, como ocorreu em outras épocas com os encenadores e dramaturgos que já citei acima.
          Vamos ver quem será o próximo encenador ou dramaturgo que contribuirá  para a realização de uma nova estética teatral.
Maicon Barbosa

2 comentários:

  1. Maicon, parabéns! Que texto claro, gostoso e interessante de ler. Sou estudante de arte cênicas e tenho que escolher um dramaturgo "pós dramático" para analisar uma de sua encenação. Me interessei bastante pelas idéias de Bob Wilson e gostaria de saber se tens alguns outros textos como fonte de pesquisa. Meu email é rodrigoduarte_almeida@hotmail.com.

    Agradeço pela atenção e parabéns novamente!

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  2. Bom dia! Parabéns. Que texto interessante. Gostaria dr mais texto, como, a forma do teatro( o corpo, a palavra e o palco).

    Meu e-mail é csalfaia@hotmail.com
    Meu nome é Carlana Alfaia. Professora de Língua Portuguesa e Artes.

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